Os
anos 60 foram tempos de ruptura, turbulência e acertamento... Em 17 de Outubro
de 1961, centenas de civis de origem argelina foram mortos a tiro, à coronhada,
enforcados ou afogados no Sena. As atrocidades da polícia parisiense foram
apagadas da memória coletiva gaulesa, mas iniciativas pelo reconhecimento oficial da
tragédia trouxeram a verdade à necessária reflexão. Nem tudo que é feito "em nome da lei" é justo e ético.
Naquele
dia milhares de franceses de origem argelina protestavam em Paris contra o
recolher obrigatório decretado exclusivamente para aquela comunidade. Sob as
ordens do comandante da polícia gaulesa Maurice Papon, os manifestantes foram
emboscados nas ruas e à saída das estações de metro. Entre homens, mulheres e
crianças – famílias inteiras participavam no protesto – um número indeterminado
de pessoas foram mortas a tiro, enforcadas ou espancadas até à morte. Durante
vários dias, corpos inchados e desfigurados foram retirados do Rio Sena. A História da Humanidade é uma história de horrores.
Bem, segundo o jornal Le Monde, mais de 11.000 argelinos foram detidos e levados para o
Palácio dos Desportos e para o estádio Pierre-de-Coubertin. “Mantidos
durante vários dias em condições de higiene assustadoras, foram violentamente
espancados pela polícia, que lhes chamava porcos árabes e ratos. No Palácio dos
Desportos, os detidos, aterrorizados, nem sequer ousavam ir à casa de banho,
porque a maioria dos que iam ali era assassinada”.
Oficialmente,
em 1961, apenas três pessoas foram dadas como mortas após os confrontos em
Paris. A anistia geral que acompanha a independência da Argélia, no ano
seguinte, adensa o manto de silêncio, já que todas as queixas são arquivadas
pela justiça francesa.
É nos
anos 80 que os franceses começam a descobrir a dimensão do massacre com o livro
La Bataille de Paris [A Batalha de Paris], de Jean-Luc Einaudi.
Seguem-se outros trabalhos literários e vários documentários.
Papon
processou o historiador Einaudi por difamação, mas perdeu o caso. A justiça
francesa confirma a ocorrência das atrocidades, mas o antigo chefe da polícia
não chega a ser julgado pelos massacres, no entanto, foi condenado nos anos 90
pelo seu envolvimento na deportação de mais de 1.600 judeus franceses para os
campos de concentração nazis, durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar
do veredito, ninguém foi julgado pelas mortes e o Estado francês jamais
reconheceu oficialmente o massacre de 17 de Outubro. De acordo com o Le Monde,
o reconhecimento limita-se a cerca de 20 placas comemorativas descerradas por
autarquias da região de Paris, como a inaugurada em 2001 pelo então presidente
da câmara municipal da capital francesa. “Em memória dos muitos argelinos
mortos durante a sangrenta repressão da manifestação pacífica de 17 de Outubro
de 1961”, lê-se na Ponte Saint-Michel.
Comentários
Postar um comentário